Rafael Nadal e Roger Federer protagonizaram neste domingo uma verdadeira batalha mítica na quadra central do All England Club. Após quase cinco horas de uma partida de tênis disputada na maior intensidade já vista, o espanhol venceu o pentacampeão de Wimbledon e se tornou o maior tenista da história ibérica.
A grandiosidade do evento já pode ser observada no placar: 3 a 2, parciais de 6/4, 6/4, 6/7 (5/7), 6/7 (8/10) e 9/7. A conquista de Nadal (inimaginável no início da carreira) foi talvez o mais duro revés levado por Federer. O suiço tinha a chance de ultrapassar o feito de Bjorn Borg de vencer seis troféus de Wimbledon consecutivamente - uma sequência de 65 vitórias na grama também foi interrompida. Improvável que o tabu seja quebrado nos próximos séculos.
Nadal começou a finalíssima a todo vapor, fazendo jus a impecável campanha que fizera até então - só perdera um set para a promessa Ernest Gulbis. Com menos erros não-forçados e golpes firmes no fundo da quadra, fechou o primeiro set em 6/4. No segundo, o espanhol chegou a estar perdendo por 4/1 e, com autoridade, fez incríveis cinco games seguidos e fechou a segundo parcial. Estava escrito, então, uma vitória por 3 sets a 0 sobre o mito da grama.
Talvez, se do outro lado não tivesse, de fato, um mito do tênis. Com saques precisos e fatais, e uma facilidade de desferir golpes agressivos que só ele, Federer engrossou o jogo. Os deuses de Wimbledon, decerto invejosos do espetáculo, resolveram aparecer e mandaram chuva para interromper a partida pela primeira vez. Era o que o suiço precisava: defendendo o serviço com precisão, fechou em 7/5 no tie-break.
No set seguinte, a disputa novamente foi decidida no tie-break. Determinado, Nadal abriu 5/2 e, com dois saques, começa a cair o jejum de Federer. Borg, das arquibancadas, via (com certeza, admirado) feliz seu reinado ser mantido. Mas eis que o suiço mostra porque é considerado por muitos o maior da história e salva dois match-points antes de fechar o tira-teima em 10/8.
Era óbvio que Nadal sentiria o golpe e Federer ganharia mais um Grand Slam jogado na grama. Mas mitos não são permeados por obviedades e a disputa foi definida além dos seis games tradicionais (no último set de Wimbledon, não é disputado o tie-break). Com um 9/7 e praticamente no escuro (o torneio inglês não usa luz artificial), Rafael Nadal, de 22 anos, escreveu seu nome no Grand Slam mais carregado de tradições.
Mas erra quem acha que Roger Federer foi derrotado. Pior ainda é quem acredita que os dois travaram uma disputa de tênis. O que o suiço e Nadal jogaram foi um esporte que por coincidência usa uma bola amarela e raquetes.
Imagem: AFP
Thiago Ricci
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