segunda-feira, 29 de junho de 2009

Hexa mais longe do Brasil

Coluna Luciano Dias - Memória e calculadora esportiva

O Brasil conquistou neste domingo mais um título para o seu currículo. Em uma virada incrível, nossa seleção derrotou os EUA por 3 a 2 e levou a Copa das Confederações. Foi apenas um leve aperitivo para o Mundial de 2010.

Mais um título da tão contestada “Era Dunga”. O maior objetivo, sem dúvidas, é o hexacampeonato da Copa do Mundo. Mas, se depender do histórico, o Mundial não vem para terras canarinhas. Sempre que um país vence a Copa das Confederações, o desempenho na Copa do Mundo seguinte não é dos melhores.

As três primeiras edições da Copa das Confederações foram disputadas na Arábia Saudita. Em 1992, deu Argentina com autoridade. Mas, no Mundial de 94, o destaque dos hermanos ficou para o doping de Maradona. Os argentinos caíram nas oitavas-de-final para a boa seleção da Romênia.

Em 1995 e em 97, os vencedores da Copa das Confederações foram Dinamarca, dos irmãos Laudrup, e Brasil, respectivamente. Mas, no Mundial da França, o troféu não foi para estes países. Brasil e Dinamarca se encontraram nas quartas-de-final. Melhor para a seleção canarinha, que em um belo jogo derrotou os dinamarqueses por 3 a 2. Os brasileiros chegaram à final contra os franceses. Precisa dar mais detalhes?

Em 1999, no México, a Copa das Confederações foi para os anfitriões, que na final derrotaram o Brasil por 4 a 3 numa bela partida. Mas, no Mundial de 2002, os mexicanos caíram para os vizinhos estadunidenses nas oitavas-de-final. Em 2001, a França levou a Copa das Confederações. Que seleção! No Mundial, que fiasco! Franceses eliminados na primeira fase sem marcar um golzinho sequer.

A França quase mudou o histórico negativo desta relação das Copas das Confederações e do Mundo. Isso porque o time de Zidane levou a Copa das Confederações novamente em 2003 e no Mundial de 2006 ficou no quase. Perdeu a final para Itália, nos pênaltis.

A partir de 2005, a Copa das Confederações passa a ser disputada a cada quatro anos, um ano antes do Mundial e no país sede da Copa do Mundo. Como se fosse um preparativo (ou aperitivo) do Mundial. E neste novo roteiro, o Brasil levou a Copa das Confederações da Alemanha, depois de um passeio sobre a Argentina na final. Mas, no Mundial, o passeio foi de Zinedine Zidane. Resultado: Brasil eliminado nas quartas. E os franceses são nossos algozes novamente.

Em 2009... Bem, a Copa das Confederações deste ano ainda está na memória dos brasileiros. A expectativa é que o histórico se modifique e o Brasil conquiste a África de vez no Mundial de 2010.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Zebra tá solta

Coluna Luciano Dias - Memória e calculadora esportiva

Quem nunca ouviu os saturados jargões: "no futebol não existe mais bobo" ou "o futebol é uma caixinha de surpresas"? Já são praticamente comuns no esporte e parecem sempre se encaixar perfeitamente nos debates futebolísticos. E quem nunca ouviu falar em Zebra? Ela está sempre presente no futebol.

Nesta Quarta-feira, foi a Espanha, invicta há 35 jogos, quem foi surpreendida pelo “simpático” animal. E quem estava fantasiado de Zebra era a seleção dos EUA. Pela Copa das Confederações, os norte-americanos, que se classificaram incrivelmente para as semifinais, derrotaram a Fúria por 2 a 0 e está na final da competição. E a Copa das Confederações vem realmente mostrando que é produtora de zebras. Na primeira fase, a poderosa Itália perdeu para o Egito por 1 a 0.

O termo Zebra é utilizado no futebol quando um time considerado inferior vence. A origem do termo vêm do “jogo do bicho”, que contém vinte e cinco animais e ganha aquele que acertar o animal que é sorteado. A zebra não faz parte dos animais participantes, logo é impossível sortea-la no jogo, daí surgiu o termo que começou a ser utlizado quando ninguem acertava o animal sorteado e todos gritavam “xiii, deu zebra".

Torneios como Copas privilegiam esse tipo de acontecimento exatamente por serem decididos em dois jogos apenas, o que possibilita que um time consiga um bom resultado em casa e se retranque ou consiga um golzinho na casa do adversário e elimine o oponente. Zebras são fatos que dificilmente acontecerão em torneios de pontos corridos, já que o planejamento e o elenco contam mais do que uma boa atuação em casa em um jogo isolado.

A revista Mundo Estranho fez um ranking de zebras entre seleções. Confira as 10 citadas:

1 - EUA 1x0 Inglaterra, Copa de 1950
2 - Coreia do Norte 1x0 Itália, Copa de 1966
3 - Camarões 1x0 Argentina, Copa de 1990
4 - Japão 1x0 Brasil, Jogos Olímpicos de 1996
5 - Alemanha Ocidental 3x2 Hungria, final da Copa de 1954
6 - Grécia 1x0 Portugal , final da Euro 2004
7 - Honduras 2x0 Brasil, Copa América de 2001
8 - Senegal 1x0 França, Copa de 2002
9 - Coreia do Sul 2x1 Itália, Copa de 2002
10 - Iraque 4x2 Portugal, Jogos Olímpicos de 2004

A Copa do Brasil talvez seja dentre todos os torneios do mundo o que mais privilegia a famosa e tão conhecida no meio do futebol. Veja alguns (apenas alguns) exemplos:

Criciúma (1991): O time, então treinado por Luis Felipe Scolari, foi campeão do torneio em cima do Grêmio.

CSA (1992): O clube alagoano elimina o Vasco

Santa Cruz (1997): Os pernambucanos eliminaram o então atual campeão Cruzeiro na segunda fase.

Juventude (1999): O time de Caxias do Sul cala os botafoguenses em pleno Maracanã e conquista o torneio.

ASA de Arapiraca (2002): Considerado por muitos a maior zebra de todos os tempos na Copa do Brasil. O time eliminou o Palmeiras em pleno Palestra Itália.

XV de Novembro (2004): O time gaúcho goleou, por 3 a 0, o Vasco, no Rio de Janeiro. O XV era comandado por Mano Meneses e no meio-campo a equipe contava com o futebol de Perdigão.

Santo André (2004): “Maracanazo”. O time da Grande São Paulo cala os flamenguistas e leva a Copa do Brasil.

Baraúnas (2005): Sim, o Vasco da Gama novamente. Alguém se lembra do Cícero Ramalho? O quarentão acima do peso que calou São Januário na vitória do time potiguar por 3 a 0.

Paulista (2005): O time do interior paulista eliminou grandes clubes, como Inter e Cruzeiro, antes de derrotar o Fluminense na final e decretar mais uma zebra na Copa do Brasil.

Ipatinga (2007): o fenômeno mineiro, então comandado por Ney Franco, eliminou Palmeiras e Botafogo. Por pouco não chegou à final do torneio.

CSA (2009): Mais um alagoano. O time elimina o Santos da Copa do Brasil dentro da Vila Belmiro.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cartas dentro do baralho

Luciano Dias



Curinga, também conhecido como coringa ou melé em algumas regiões, é a carta do baralho que, em certos jogos, muda de valor conforme a combinação de cartas que o jogador tem em mãos. Normalmente, o curinga é uma carta de conteúdo especial.

O que isso tem a ver com o futebol? Tudo, principalmente hoje em dia. No futebol, um curinga é aquele jogador versátil, que atua em várias posições. Estes atletas são de grande valia para os treinadores. Que o diga o técnico do São Paulo, Muricy Ramalho.

“Hoje o futebol brasileiro exige que um clube tenha atletas versáteis. O Real Madrid pode ter dois nomes para cada posição, mas no Brasil não funciona assim, temos que pensar no clube na hora de contratar. Jogadores que atuam em várias posições são fundamentais e temos isso aqui”, destaca o treinador, no final de 2008.

No Tricolor Paulista, os destaques são os volantes, laterais e zagueiros Zé Luis e Richarlyson. Eles são peças fundamentais no elenco do São Paulo, na posição de origem ou não. Sem contar com Rogério Ceni, que bate falta com precisão maior do que muitos jogadores de linha. Será os curingas, o segredo do Tricolor Paulista para as glórias dos últimos anos?

No Cruzeiro, o curinga Marquinhos Paraná é o jogador mais regular do elenco. Volante de origem, já atuou também nas duas laterais, na zaga e na armação. Para o treinador Adilson Batista, Paraná simplesmente “brinca de jogar bola”.

No elenco da seleção que disputa a Copa das Confederações, Júlio Baptista é o melhor exemplo. Na convocação de Dunga, ele é chamado como meio-campo. No seu clube, o Roma (ITA), ele atua como um segundo atacante. O seu melhor momento da carreira foi no Sevilla (ESP) como centroavante – o camisa 9. No São Paulo, Júlio já foi atacante, meia, lateral-direito e até mesmo zagueiro.

Para o auxiliar-técnico da seleção Jorginho, Júlio é muito importante para o Brasil. "Ele é um jogador chave para a Seleção. Ele toda vez entra bem, é forte, versátil. Pode jogar como volante, meia e atacante", avaliou Jorginho após o empate do Brasil contra o Equador, em Quito, em março, pelas Eliminatórias. Lembrando que Jorginho também era chamado de curinga quando era jogador. Era lateral-direito, mas também fazia as vezes de volante e articulador.

Mas, nem sempre é vantagem ser curinga. Pará, do Santos, é um bom exemplo. O site oficial do Peixe classifica Pará como lateral esquerdo. "Sempre fui meia. Ou segundo volante, vindo de trás". A confusão é justificável. Pará já jogou nas duas laterais do Santos, além de atuar na armação e na contenção do meio-campo. O jogador reconhece que dificilmente conseguirá ser titular da equipe comandada por Vágner Mancini sem se firmar em um setor do campo.

Confira outros curingas nos elencos de algumas equipes da Série A:

Atlético-MG – Carlos Alberto, Júnior

Atlético-PR – Zé Antônio

Botafogo – Eduardo, Leandro Guerreiro

Cruzeiro – Marquinhos Paraná

Corinthians – Alessandro, Escudero (pouco jogou)

Coritiba - Carlinhos Paraíba

Grêmio - Souza

Flamengo – Airton, Toró

Fluminense – Wellington Monteiro, Marquinho


Inter – Bolívar

Náutico – Carlinhos Bala

Palmeiras – Wendell, Sandro Silva

Santos – Pará

Santo André – Fernando

São Paulo – Richarlyson, Zé Luis, Jorge Wagner

Vitória – Jackson, Willian

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um sonho por birusca abaixo

Luciano Dias

O perfil abaixo não é uma realidade isolada. Infelizmente. Muitos atletas conseguem jogar em grandes clubes, mas não dão sequências em suas carreiras. A oportunidade chega, resta saber aproveitar.


Ser jogador de futebol é o sonho de muita gente. Profissionalizar, jogar em um grande clube, atuar pela seleção brasileira, ser contratado por um time europeu, ganhar muito dinheiro.... Mas, para realizar o sonho é preciso muita persistência.

Persistência teve Marcelo da Silva Lopes, o Birusca, 43 anos. Mulato e forte não aparenta ter esta idade. Tive o prazer de conhecê-lo em uma dessas “peladas” que a gente joga por aí. No final de um dos “futibas” tomamos aquela cervejinha para refrescar.

Natural de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri de Minas Gerais, Birusca se mudou aos 17 anos para Belo Horizonte com o objetivo de realizar um dos seus primeiros sonhos: jogar no Clube Atlético Mineiro. Você pode está se perguntando: porquê Birusca? Isso respondo na parte final deste perfil. Por enquanto vou chamá-lo de Marcelo mesmo.

Mas, antes de se mudar para a capital, ele já se destacava nas equipes de várzea de sua cidade natal. Várias pessoas o aconselhavam para fazer testes nas equipes da capital. Marcelo trabalhou durante um ano como garçom em Teófilo Otoni. Juntou dinheiro e trouxe nas malas para BH a inocência, mas ao mesmo tempo o sonho de ser jogador.

Em 1982, Marcelo fez o teste nos juniores do Galo. O time profissional do Atlético era recheado de estrelas, como João Leite, Reinaldo, Éder e Nelinho. Dificilmente ele receberia alguma oportunidade no time profissional alvinegro naquele ano. Mas, em 1983, o então técnico dos profissionais do Galo, Mussula, apreciou uma partida dos juniores contra o Cruzeiro, na Toca da Raposa.

O Galo venceu por 2 a 0, todos os gols de Marcelo. Dois dias depois, Mussula o chamou para integrar o grupo de profissionais. O teofilotonense foi convocado para viajar à Governador Valadares para enfrentar o Democrata. Entrou, sem destaque, no final da partida.

Foi o suficiente para Marcelo mudar o seu jeito de viver. O aspirante a jogador foi convocado para a partida seguinte, contra o Valério, de Itabira, no Mineirão. Mas, a carreira de Marcelo no Galo acabou na concentração para este duelo. Simplesmente ele fugiu da concentração e, imediatamente, foi dispensado do clube. Neste momento da conversa, Marcelo toma, em uma “golada” só, toda a cerveja de seu copo.

Voltou para Teófilo Otoni para tentar retomar a sua vida. Nesta volta à cidade natal, os amigos o apelidaram de Birusca, uma das denominações para a cachaça. Até que Marcelo (agora posso chamar de Birusca) gostou do apelido.

Em 1985, Birusca tentou a sorte no Democrata, de Governador Valadares. Jogou algumas partidas, o suficiente para ganhar um “dinheirinho”. Mas, foi dispensado novamente. Motivo: a birusca ou cachaça, como preferir.

Marcelo ainda rodou em outros clubes do interior do estado, como Mamoré, de Pato de Minas, Valério, de Itabira, e Rio Branco, de Andradas. Em 1991, encerrou a sua carreira profissional. Ele ainda brinca: “longa carreira”.

Aos 27 anos, tentou a sorte novamente em BH, mas, desta vez, para procurar qualquer tipo de emprego. Na capital, já foi vendedor, sapateiro, ladrão, drogado, padeiro, faxineiro... Atualmente, Birusca ganha a vida como pedreiro. Mora sozinho em uma casa de quatro cômodos, no bairro Santa Inês, região Leste de Belo Horizonte.

Mulheres e filhos? Ele brinca no último gole: “Deixei em cada clube que joguei!”