quinta-feira, 2 de abril de 2009

Até quando essa chatice?

Thiago Ricci

É impressionante como a seleção brasileira consegue deixar insuportável um jogo fácil, em casa, contra o lanterna das Eliminatórias. O terceiro gol de Felipe Melo contra o Peru foi emblemático: a ilustração do time de Dunga. Burocrático, pragmático, feio, baseado na força e, para a desgraça de quem gosta de um bom futebol, sustentado em resultados. Nada muito diferente do volante que carregou a faixa de capitão na Copa de 94. É a cria com a cara do criador.

Criador que exala antipatia nas entrevistas, momento em que a população consegue conhecer um pouco da figura pública. Ao invés de dar declarações e explicações sobre as controversas atitudes, o atual técnico prefere dar cacetadas ininterruptas nos jornalistas.

O que é desesperador é a falta de qualquer oásis. Não é de hoje que a canarinho vem se arrastando, sem empolgar ninguém. O Brasil não conseguiu emplacar dois jogos sequer de bom futebol, ou, ao menos, duas vitórias consecutivas. Parece que é preciso receber duras críticas para dar alguma resposta no jogo seguinte. Comportamento irritante e estranho para uma equipe aguerrida, característica primordial para o comandante Dunga.

Dentro de campo, o único fio de esperança fica por conta de Kaká. Ronaldinho Gaúcho, até outrora comparado até a Maradona, parece que está em um profundo coma. Cada vez que encosta na bola, o público se enche de expectativas como se estivesse diante de um mágico que está prestes a ocupar o palco de encanto. Sentimento que é quebrado brutalmente com a decepção. Robinho mais parece um bobo da corte, com raros relâmpagos de genialidade. Alguns nomes que poderiam dar brilho ao time, como Hernanes e Ramires, são ignorados por Dunga.

E assim caminha a nossa seleção, responsável em outras épocas por mobilizar todo o país e dar uma injeção de orgulho nos brasileiros. Se nada mudar, a projeção é assustadora. A globalização roubou nossos ídolos já há algum tempo. Não existe mais aquela euforia momentos antes da convocação para conferir se o craque do seu time foi escolhido. Em alguns casos, o torcedor prefere que o grande jogador seja esquecido para não desfalcar seu time e/ou atrair os compradores estrangeiros.

Além disso, os jogos da seleção são realizados, na maioria das vezes, longe do Brasil. E, quando o time dá o ar da graça, o preço dos ingressos é exorbitante – o que exclui de muitos o privilégio de assistir à partida. Atraídos por dinheiro, os dirigentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) só pensam em encher os bolsos e na Copa 2014 – o que são quase sinônimos.

A falta de graça não se limita a nossa seleção. Nossos vizinhos argentinos também contam com grandes talentos, mas não conseguem emplacar uma boa equipe nacional. A última façanha foi sofrer a maior goleada da história: 6 a 1 para a Bolívia, penúltima colocada das Eliminatórias. Algum pragmático afirmará: mas o que conta mesmo é a Copa do Mundo! O problema também está no maior evento futebolístico do planeta. A qualidade técnica de 2006 foi horrível. Grande parte dos jogadores estavam extenuados, vindo de final de uma longa e desgastante temporada. Basta lembrar de dois fatos: o melhor atleta do torneio foi o zagueiro Cannavaro e nenhum craque (Gerrard, Kaká, Lampard, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho etc.) vingou de verdade.

Futebol mecânico e burocrático é possível ver com frequência no Brasil. O São Paulo, responsável por abocanhar os três últimos títulos nacionais, joga na maioria das vezes de forma feia, em busca somente do resultado. Mas se a vitória por si só se sustenta em times, o mesmo não pode-se dizer para seleções. É inegável que esperamos algo mais quando vimos o combinado canarinho em campo.

Oportunidades não faltam. Até a crise econômica foi benéfica: trouxe de volta alguns ídolos exportados, como Ronaldo, Fred e Kléber. O que precisa mesmo é que dirigentes de entidades tão importantes como a CBF e a FIFA se comportem como tais.

2 comentários:

Rudá Ricci disse...

Que tal se exportássemos os dirigentes já que estamos repatriando os jogadores?

Vinicius Grissi disse...

Não é de hoje que a Seleção Brasileira caiu no desgosto do povo. Não é novidade da era Dunga. Mas é uma pena!