terça-feira, 4 de outubro de 2011

Do jogo do bicho ao sucesso no futebol

Luciano Dias (@jornlucianodias)

O técnico Cuca pediu para contratá-lo já na primeira semana de trabalho no Atlético. Um vídeo que circula na internet mostra o treinador fazendo o pedido para alguns torcedores. "O Pierre está pronto para vir, manda os caras contratarem o Pierre do Palmeiras…"

A diretoria atleticana atendeu e Lucas Pierre Santos de Oliveira chegou para corrigir a pane defensiva do Galo. Os gols sofridos diminuíram. Para muitos, por causa do garra de Pierre.

Aliás, garra faz parte da vida deste jogador, apelidado de "cão de guarda". Ele se lembra dos tempos difíceis na pequena Itororó, cidade baiana com menos de 20 mil habitantes. O volante atleticano era apenas um motoboy do jogo do bicho. Época complicada, em que o futebol parecia um sonho distante, difícil de acontecer.

Pierre levava os jogos de moto para as bancas e depois buscava os resultados. Por dia, eram três corridas indo e outras três voltando. Muitos quilômetros rodados. Levou alguns tombos de moto, mas conseguiu se levantar em busca da vitória.

Nos momentos livres, o futebol era a diversão e o sonho de um futuro melhor. Jogando num time do município, Pierre acabou sendo visto e levado para o Vitória, onde ficou durante seis meses nas categorias de base. Ele quase não foi por medo de perder o emprego garantido. Sem sucesso no clube baiano, o atleta voltou para a banca do jogo do bicho. Seu destino parecia ser mesmo esse.

Só parecia. Um integrante do conselho do Vitória o indicou para fazer um teste no Ituano. Pierre pegou um ônibus no domingo rumo a Campinas, sem ar condicionado e que parava em todos os lugares. O jogador foi bem e, em seguida, ajudou o Ituano a fazer a melhor campanha da história do clube, no Paulista de 2002.

De lá para cá, Pierre variou entre o Ituano e o Paraná, até chegar ao Palmeiras pelas mãos do técnico Caio Júnior, em 2007, que havia sido seu comandante no time paranaense.

Atualmente, o atleta é peça fundamental no esquema de Cuca no Atlético e reconhecido pelo seu talento na marcação e nos desarmes. Com 29 anos, Pierre ainda tem um sonho. O de vestir a camisa da Seleção Brasileira.

Momentos complicados

Fora de campo, Pierre também teve que mostrar o espírito guerreiro. A família já passou por situações complicadas. Ele teve que começar a trabalhar com 16 anos, quando a mãe sofreu um acidente de carro, quebrou duas vértebras da coluna e precisou de cuidados durante 9 meses. O primeiro emprego foi em um bar, onde conheceu o dono da banca de jogo do bicho, que o levou para trabalhar.

Já casado e na melhor fase da carreira, outro drama familiar: na gravidez da esposa, a bolsa se rompeu prematuramente, com seis meses, dando a luz a um casal antes da hora. O menino não aguentou e morreu. A menina, nasceu com 520 gramas, e lutou bravamente na UTI por 3 meses, até que se recuperou. No meio do caminho, uma deficiência de oxigênio no cérebro acabou por danificar algumas de suas funções motoras. Hoje, com 3 anos de idade, ela faz Fisioterapia e Ecoterapia.

Mesmo com a filha doente, Pierre não deixou de jogar normalmente pelo Palmeiras. Com a filha recém-nascida na UTI, ele treinava com o celular dentro do calção de treino e, toda vez que precisava sair, o então técnico, Vanderlei Luxemburgo, o autorizava.

As lesões também fizeram parte da carreira do jogador. A primeira, no melhor momento da carreira, justamente quando estava sendo cotado para a seleção brasileira. Quando voltou a jogar bem, outra lesão, que o afastou dos gramados novamente. Depois disso, não conseguiu repetir as ótimas atuações que o marcaram no Palmeiras.

*Colaborou: Ramon Guerra (@ramallguerra)

Confira o quadro "Vida Antes da Bola", do Esporte Fantástico Minas, com o volante Pierre:

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