Thiago Ricci (@thiricci)
Claramente baseados em interesses políticos, os estaduais ganham a cada ano mais inimigos. Tabelas inchadas, disparidade técnica entre os times assombrosa, despreparo dos times grandes, sem tempo para pré-temporada, falta de interesse do público são alguns motivos óbvios para o extermínio desses torneios.
Mas o que seriam dos dirigentes corruptos e incompetentes sem os salvadores estaduais? E os pobres torcedores desses times, comandados por irresponsáveis? Para não se estender à outra polêmica, foram analisados os 20 clubes pertencentes ao Clube dos 13:
Atlético-MG - Nem toda a recente adoração pelo "salvador" Alexandre Kalil seria capaz de amenizar a ira alvinegra. A massa atleticana, nacionalmente conhecida pela paixão incondicional, teria, certamente, um impacto negativo. Nada menos do que 40 troféus seriam reduzidos da estante preta e branca. O último caneco de alguma expressão seria o da extinta Conmebol, em 1997. E mesmo assim de valor duvidoso, já que o CSA, da Alagoas, foi vice-campeão e o Talleres, atualmente na terceira divisão argentina, abocanhou o título.
Atlético-PR - Menos 22 taças para o currículo dos paranaenses. Entretanto, o time mais forte do Paraná não ficaria completamente órfão, graças às competentes conquistas dos últimos anos. Os vices da América, em 2005, e do Brasil, em 2004, além do título brasileiro do início do século, em 2001, deixariam os rubro-negros, que têm um dos estádios mais modernos do país, tranquilos.
Bahia -A supremacia no estado continuaria por causa do único título nacional, mas os torcedores perderiam 43 motivos para importunar os rivais. A comemoração mais importante ficaria na década de 80, com o Brasileiro de 1988. Além do solitário troféu, os dirigentes poderiam se escorar nas três conquistas da Copa do Nordeste (1997, 1999 e 2003), talvez a saída para substituir os desinteressantes campeonatos estaduais.
Botafogo - O atual comandante do alvinegro carioca odiaria a extinção dos estaduais. Sete cariocas seriam subtraídos do currículo de Joel Santana. O questionado time do Botafogo estaria completamente na berlinda, ao ser eliminado da Copa do Brasil. E os dirigentes precisariam fazer duas estátuas: uma para o atacante Túlio e outra para o árbitro Márcio Rezende de Freitas. O primeiro pelos 23 gols e o último pelas trapalhadas na partida final que ajudaram a dar o único Brasileiro ao Fogão, em 1995. A estante botafoguense teria que dar adeus a 19 taças.
Corinthians - Perderia a supremacia paulista ao ver 26 taças sumirem. Mas o alvinegro paulista, sustentado por parcerias suspeitas, provavelmente conseguiria manter o maior número de torcedores no estado. Apesar do rebaixamento em 2007, os quatro títulos brasileiros (1990, 1998, 1999 e 2005), as três Copas do Brasil (1995, 2002 e 2009) e a Copa do Mundo organizada pela Fifa, em 2000, conseguiriam fazer com que os fãs corintianos esquecessem a incompetência administrativa.
Coritiba - Sem 34 títulos estaduais, a torcida do Coritiba perderia, provavelmente, um dos únicos argumentos para zombar os rivais atleticanos. O recente rebaixamento no Campeonato Brasileiro e o longínquo Campeonato Brasileiro de 1985 provavelmente causariam a fúria dos coxas-brancas.
Cruzeiro - Carinhosamente apelidado de campeonato rural pelo presidente, o Cruzeiro aparentemente não sentiria falta do Campeonato Estadual. Os cruzeirenses somente lamentariam a chance de alcançar o número de títulos do rival. Desde 1990, ganhou o dobro do que o Atlético (12 contra 6 conquistas). Uma visão mais pessimista diria que o período de sete anos sem títulos nacionais (em 2003, o Cruzeiro venceu o que chama de tríplice coroa: Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro) é extenso para um dos clubes mais organizados do Brasil.
Flamengo - A disputa particular com o Fluminense (tricolor tem 30 títulos e, o rubro-negro, 31) acabaria, mas é provável que o Flamengo continuaria com a maior torcida do país. O título brasileiro do ano passado e a Copa do Brasil em 2006 são conquistas que continuam frescas na memória do torcedor.
Fluminense - Sem 30 taças na Sala de Troféus, o Fluminense provavelmente perderia adeptos. A torcida teria que ficar satisfeita com a Copa do Brasil de 2007. Com exceção da conquista há três anos, só os trintões conseguiriam vangloriar-se de um título nacional: em 1984, um Campeonato Brasileiro.
Goiás - O time alviverde perderia a supremacia goiana, com 22 troféus a menos. Mas o impacto ficaria restrito a isso, já que não venceu títulos de importância nacional. As últimas taças seriam a da Copa Centro-Oeste, em 2001, 2002 e 2003.
Grêmio - Sem os 36 títulos estaduais, o Grêmio precisaria voltar há quase uma década para comemorar uma conquista importante: a Copa do Brasil de 2001. Pouquíssimo para um time de tanta tradição quanto o tricolor gaúcho.
Guarani - O curioso é que o Guarani ficaria intacto com a eliminação dos títulos estaduais. Única equipe do interior a vencer um Campeonato Brasileiro, em 1978, o Bugre nunca ganhou um Campeonato Estadual.
Internacional - Os colorados não ficariam satisfeitos em perder um dos motivos para ridicularizar os rivais: sem as 39 taças, a supremacia estadual iria por água abaixo. De qualquer forma, a boa administração desta década acalmaria os torcedores. Além de sediar a Copa do Mundo em 2014, o clube tem nada menos do que cinco copas internacionais recentes: Mundial e da Libertadores em 2006, Recopa no ano seguinte, Sul-Americana em 2008 e Suruga no ano passado. Falta, somente, o Brasileiro. O último foi em 1979.
Palmeiras - Se o alviverde paulista já é um turbilhão com 22 campeonatos estaduais, a situação com certeza não melhoria sem eles. Ainda com a recente perda do Campeonato Brasileiro, a torcida não perdoaria ser o único time paulista sem títulos importantes no atual século. Restaria aos palmeirenses lembrar da década de 90: Copa Libertadores (1999), bicampeonato brasileiro (1993 e 1994), Copa Mercosul (1999) e Copa do Brasil (1998).
Portuguesa - Time simpático, é difícil acreditar que os poucos torcedores que tem existem por causa dos distantes campeonatos estaduais de 1935, 1936 e 1973. Provavelmente não teria impacto algum no número de simpatizantes.
Santos - Ninguém gostaria de perder 18 títulos - ainda mais um com menos de uma semana de conquista. Mas é praticamente certo que a torcida não depende dessas taças. Além de ter encantado o Brasil com um time em que o maior futebolista da história jogou, o Santos aprendeu a viver sem o Pelé. Os únicos campeonatos brasileiros foram vencidos nesta década, em 2002 e 2004.
São Paulo - Outro time que provavelmente passaria imune à retirada dos estaduais (21 títulos a menos). A administração, com certeza, comemoraria a derrocada da inimiga Federação. Dono do maior estádio particular do país, o São Paulo ainda tem fresco na memória o tricampeonato brasileiro (2006, 2007 e 2008) e dois títulos internacionais (Copa Libertadores e Mundial em 2005).
Sport - 38 taças e a supremacia estadual absoluta a menos desagradariam os rubro-negros. O que salvaria a pele dos dirigentes seria a Copa do Brasil, vencida há dois anos. Fora essa conquista, sobrariam o contestado título nacional de 1988 e a Copa Nordeste, de 1994 e 2000.
Vasco - Talvez o maior símbolo de vítima de uma administração corrupta, o Vasco aumentaria o jejum sem os 22 campeonatos cariocas. A torcida, ávida por um título, provavelmente ficaria ainda mais insatisfeita. Ninguém se esqueceu das conquista do final da década de 1990 (Libertadores em 1998, Campeonato Brasileiro em 1997 e 2000, Mercosul em 2000 e Rio-São Paulo no mesmo ano), mas é pouco para um clube como o Vasco.
Vitória - Sem os 26 campeonatos estaduais, sobrariam para o Vitória as conquistas da Copa Nordeste (1997, 1999 e 2003). Três títulos para um time tradicional provavelmente não sustentariam a torcida que o Vitória tem. De qualquer forma, a aparição mais forte do time baiano no cenário nacional foi em 1993, quando disputou o Campeonato Brasileiro com o Palmeiras.
Com essa rápida constatação, é possível observar que muito time brasileiro ficaria praticamente sem títulos nas últimas décadas. O efeito dos campeonatos estaduais é claramente maléfico para o futebol cada vez mais profissional e competitivo disputado atualmente. Mas é difícil negar a importância desses campeonatos para a distribuição de torcedores. É possível que, sem eles, ficássemos parecidos com os países europeus, com um grupo extremamente restrito de clubes potentes.
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