quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um sonho por birusca abaixo

Luciano Dias

O perfil abaixo não é uma realidade isolada. Infelizmente. Muitos atletas conseguem jogar em grandes clubes, mas não dão sequências em suas carreiras. A oportunidade chega, resta saber aproveitar.


Ser jogador de futebol é o sonho de muita gente. Profissionalizar, jogar em um grande clube, atuar pela seleção brasileira, ser contratado por um time europeu, ganhar muito dinheiro.... Mas, para realizar o sonho é preciso muita persistência.

Persistência teve Marcelo da Silva Lopes, o Birusca, 43 anos. Mulato e forte não aparenta ter esta idade. Tive o prazer de conhecê-lo em uma dessas “peladas” que a gente joga por aí. No final de um dos “futibas” tomamos aquela cervejinha para refrescar.

Natural de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri de Minas Gerais, Birusca se mudou aos 17 anos para Belo Horizonte com o objetivo de realizar um dos seus primeiros sonhos: jogar no Clube Atlético Mineiro. Você pode está se perguntando: porquê Birusca? Isso respondo na parte final deste perfil. Por enquanto vou chamá-lo de Marcelo mesmo.

Mas, antes de se mudar para a capital, ele já se destacava nas equipes de várzea de sua cidade natal. Várias pessoas o aconselhavam para fazer testes nas equipes da capital. Marcelo trabalhou durante um ano como garçom em Teófilo Otoni. Juntou dinheiro e trouxe nas malas para BH a inocência, mas ao mesmo tempo o sonho de ser jogador.

Em 1982, Marcelo fez o teste nos juniores do Galo. O time profissional do Atlético era recheado de estrelas, como João Leite, Reinaldo, Éder e Nelinho. Dificilmente ele receberia alguma oportunidade no time profissional alvinegro naquele ano. Mas, em 1983, o então técnico dos profissionais do Galo, Mussula, apreciou uma partida dos juniores contra o Cruzeiro, na Toca da Raposa.

O Galo venceu por 2 a 0, todos os gols de Marcelo. Dois dias depois, Mussula o chamou para integrar o grupo de profissionais. O teofilotonense foi convocado para viajar à Governador Valadares para enfrentar o Democrata. Entrou, sem destaque, no final da partida.

Foi o suficiente para Marcelo mudar o seu jeito de viver. O aspirante a jogador foi convocado para a partida seguinte, contra o Valério, de Itabira, no Mineirão. Mas, a carreira de Marcelo no Galo acabou na concentração para este duelo. Simplesmente ele fugiu da concentração e, imediatamente, foi dispensado do clube. Neste momento da conversa, Marcelo toma, em uma “golada” só, toda a cerveja de seu copo.

Voltou para Teófilo Otoni para tentar retomar a sua vida. Nesta volta à cidade natal, os amigos o apelidaram de Birusca, uma das denominações para a cachaça. Até que Marcelo (agora posso chamar de Birusca) gostou do apelido.

Em 1985, Birusca tentou a sorte no Democrata, de Governador Valadares. Jogou algumas partidas, o suficiente para ganhar um “dinheirinho”. Mas, foi dispensado novamente. Motivo: a birusca ou cachaça, como preferir.

Marcelo ainda rodou em outros clubes do interior do estado, como Mamoré, de Pato de Minas, Valério, de Itabira, e Rio Branco, de Andradas. Em 1991, encerrou a sua carreira profissional. Ele ainda brinca: “longa carreira”.

Aos 27 anos, tentou a sorte novamente em BH, mas, desta vez, para procurar qualquer tipo de emprego. Na capital, já foi vendedor, sapateiro, ladrão, drogado, padeiro, faxineiro... Atualmente, Birusca ganha a vida como pedreiro. Mora sozinho em uma casa de quatro cômodos, no bairro Santa Inês, região Leste de Belo Horizonte.

Mulheres e filhos? Ele brinca no último gole: “Deixei em cada clube que joguei!”

2 comentários:

Fábio disse...

Existem grandes jogadores, mas com pequenas cabeças. Tem muitos exemplos. Alguns conseguem se manter, não sei como. Estou falando do Adriano.

abraços

Vinicius Grissi disse...

Apesar de um caso complicado, uma bela história. E como você disse, encontrar um caso como este é mais fácil do que imaginamos.