quarta-feira, 16 de julho de 2014

Não foi só um apagão

Luciano Dias (@jornlucianodias)

A goleada sofrida para a Alemanha e a despedida melancólica contra a Holanda não foram acidentes ou apagões, como o técnico Felipão tentou justificar. No caso do 7 a 1, no Mineirão, foi a vitoria do planejamento alemão contra a arrogância brasileira no futebol. Enquanto os europeus trabalharam uma geração após uma década de 90 com poucos talentos, nós ficamos a mercê de individualidades. 

 O aviso foi dado nos últimos anos com os próprios clubes, que fizeram feio no cenário internacional. Santos sofrendo oito gols para o Barcelona em amistoso, Atlético sendo eliminado para um time marroquino no Mundial de Clubes, nenhuma equipe brasileira nas semifinais da Libertadores e por aí vai. Precisamos de um trabalho a médio prazo. Temos que parar com o imediatismo. O futebol mudou, evolui. Não bastam apenas talentos. Não vamos ganhar porque somos o “País do Futebol”, porque nossos jogadores tem a ginga, tem a malandragem… 

 O futebol brasileiro parou no tempo e não acompanhou as mudanças no Mundo. É preciso planejamento, organização, reformulação, começando por uma limpeza na Confederação Brasileira de Futebol. É preciso mudar o conceito, imediatamente. 

Filosofia dos treinadores

É impressionante como os técnicos brasileiros (90% deles) estão atrasados. Temos exemplos atrás de exemplos. Por aqui parece que é obrigatório uma equipe jogar com centroavante, aquele camisa 9 trombador. Dependendo da partida ou da característica da própria equipe, é possível jogar sem este centroavante, principalmente, pela carência de jogadores nesta posição. 

 Irrita como nossos clubes abusam nas ligações diretas. Equipes modestas, como a Costa Rica e os Estados Unidos, deram show tático no Mundial. Jogadas ensaiadas, saíram da defesa com qualidade para o campo de ataque, nada de chutão. O excesso de lançamentos é influenciado pela forma que nossos treinadores enxergam a posição volante. 

O futebol de hoje não permite aquele camisa 5 da década de 90, apenas ladrão de bola e que a entrega para o companheiro. Aquele jogador que muitas vezes vira um terceiro zagueiro. Este primeiro volante deve ser o cara da saída de bola e, muitas vezes, elemento surpresa no ataque. Os volantes alemães mostraram como tem que ser. Marcam e saem pro jogo com qualidade. Três dos sete gols deles contra o Brasil foram de volantes. 

Não existe mais aquela conversa de treinador paizão, que forma uma família, que paparica jogador. Precisamos é de trabalho e os próprios atletas devem começar a enxergar isso. Sinceramente, torço por treinadores de fora, com novos pensamentos. Um Guardiola comandando a Seleção seria sensacional. Mas que fique claro: não é a solução de todos os problemas do futebol brasileiro. 

 É preciso de mais cursos para os comandantes, assim como existe na Alemanha e na Espanha. É preciso iniciativa dos nossos técnicos também.

Trabalho das Divisões de base 

O principal objetivo das categorias de base tem que ser revelar jogadores e não vencer campeonatos. Infelizmente, se o treinador (até mesmo na base)não consegue conquistas, ele é demitido. Sim, a pressão deve existir, mas não desta forma, com este conceito. 

Acompanhei alguns jogos da base nos últimos meses. Muito chutão, pouco toque de bola, muita raça, pouca técnica. Os juniores, juvenis, infantis deveriam manter o esquema de jogo parecido com o time profissional. Sei que é difícil isso acontecer, já que nem a maioria das equipes principais tem esquema, padrão de jogo definido. 

 Há dois anos, tive a oportunidade de assistir uma equipe Sub-17 do Barcelona jogar o Future Champions, um modelo de Mundial de Clubes da categoria.  A equipe espanhola joga com a mesma formação do time de Messi e cia. Os garotos eram obrigados a sair do campo de defesa tocando a bola, mesmo errando muitas vezes. Nada de chutão. O importante era criar uma filosofia.

Observa-se um jogo de interesses entre empresários e clubes, falta de visão e de garimpo de talentos. A situação é tão grave que nossa Seleção não conseguiu se classificar para o Mundial da categoria. A cabeça dos garotos deve ser mudada. Hoje, a meninada não quer mais se profissionalizar e vestir a camisa da Seleção e sim jogar no futebol europeu. 

A sorte do futebol brasileiro é que sempre desponta algum talento. Mas estes craques estão cada vez mais escassos.

Renovação na Seleção e na CBF 

É preciso uma limpeza na CBF. Os mesmos nomes, os mesmos problemas na cúpula da Confederação. Que o 7 a 1 traga algo positivo. Que seja esta renovação imediata. 

Quanto aos jogadores, o pensamento, como disse anteriormente, tem que ser a médio prazo. Os frutos serão colhidos em 2018 ou que seja em 2022. Podemos manter a experiência de Thiago Silva e David Luiz e somar com uma safra de talentos, com menos de 25 anos, que já são realidades: Marquinhos (PSG), Mayke (Cruzeiro), Fernando (Shakhtar), Lucas Silva (Cruzeiro), Lucas (PSG), Oscar (Chelsea), Coutinho (Liverpool), Bernard (Shakhtar), Neymar (Barcelona), entre outros que vão surgir. Assim espero! 

Foram apenas alguns (poucos) exemplos de mudanças no nosso futebol. Sei que a discussão é mais ampla, mas é preciso começar. Que comece, então, na filosofia dos treinadores, no trabalho das divisões de base e na renovação da Seleção e da CBF.

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